Sufjan Stevens regressa a Portugal vários anos após a sua última visita, quando era ainda um artista obscuro dos recônditos do folk e electrónica. Reconhecido agora, consagrado pelo seu percurso musical, e nas palavras do próprio, “mais velho, mais experiente e mais sábio”, apresentou ontem ao público portuense o seu novo álbum, “The Age Of Adz”, editado em Outubro passado.
Este álbum significou uma mudança de paradigma na carreira de Sufjan Stevens, já que ao fim de vários anos a debater-se com a relação intrínseca entre o esmagador e colossal universo celestial e o ínfimo, mas vastamente detalhado universo interior e pessoal, o artista expõe esta sua visão nas músicas que agora apresenta, decorrentes também do seu fascínio pelo funcionamento do sistema nervoso humano e do seu actual estado mais hormonal, como que a viver uma segunda adolescência. Tudo isto, e de facto muito mais, nos foi dito pelo próprio, pois Sufjan Stevens conversou profusamente com o seu público, sentindo necessidade de dar a conhecer o conceito do seu trabalho.
“The Age Of Adz”, enquanto obra musical, é um álbum coeso, com uma grande variedade de camadas sonoras e profundamente texturado, contudo nem sempre de fácil compreensão. Assistir ao concerto e ouvir do seu criador a ligação entre os vários pontos, permite-nos compreendê-lo e criar uma imagem mental mais fidedigna da mensagem nele expressa. A complexidade da obra é tal, que este auto-denominado “singer-songwriter”, faz agora uso de uma banda com vários elementos, apresentando uma performance sólida, divertida na sua diversidade e entusiasmante pela qualidade do trabalho musical.
Aludindo ao nome da música nas asas que se viram abrir em dramático efeito, o concerto começou com “Seven Swans” e deu a conhecer ao público presente a magnificência visual que acompanharia a sonora durante as 2 horas e 10 minutos seguintes. Holofotes, lasers e vestimentas espaciais de várias cores, um ecrã no background a complementar o conceito das músicas e uma cortina frontal que desceu várias vezes a duplicar o efeito dessas imagens, foram vários dos ingredientes que tornaram este num espetáculo único. Infelizmente o Coliseu do Porto estava a meia capacidade.
Seguiram-se no alinhamento “Too Much” e a grandiosa e imponente “Age of Adz”, antes da apresentação de uma cover dos R.E.M., “The One I Love”, apenas com Sufjan Stevens e a sua guitarra, junto à berma do palco, dedicada à pessoa que o artista ama.
Para introduzir a música seguinte, “Now That I’m Older”, Sufjan explica que apesar de ser jovem e talvez não ser ainda indicado pensar nestas questões, sente que é um privilégio ter a possibilidade de envelhecer, sendo que no fundo, nunca é demasiado cedo para se refletir nesse assunto. Pensamos que esta música terá nascido no rescaldo da doença do foro nervoso que o afectou recentemente e das suas consequências face a uma mudança de postura de vida.
Ouviram-se então “I Walked” e “Sister”. Nesta última o artista volta à sua guitarra e a estar perto do público, pedindo a todos que têm irmãs ou que são irmãs, a acompanhá-lo em duas séries de vocalizações que o próprio ensinou na altura. Mais ou menos afinados, a participação foi elevada.
Chegados a “Get Real Get Right”, Sufjan Stevens apresenta-nos a metade que faltava da conceptualização do álbum, bem como a influência desta música. Durante os 20 minutos seguintes, ficamos a saber que nas suas viagens, o artista conheceu Royal Robertson, um profeta auto-aclamado capaz de prever a destruição do mundo. Nos momentos em que se absorvia em experiências extra-corpo, visualizava diferentes partes desse final anunciado e representava-as em pinturas e desenhos, para os quais tinha um dom natural. Era um autodidata que nunca havia frequentado a escola e vivia com a mulher e os seus 15 filhos numa casa que ele próprio construiu. Com o passar do tempo e o agravamento do seu comportamento errático, foi-lhe diagnosticada esquizofrenia, cujo tratamento sempre recusou, até que expulsou a sua família de casa e afixou sinais por todo o interior e exterior da habitação, alertando para o destrutivo e iminente caos que se aproximava. Apesar do caricato de toda a situação, a contemplação das pinturas e dos desenhos, bem como o estudo das teorias de Royal Robertson, permitiram a Sufjan Stevens compreender melhor a sua postura perante a vida e o entendimento do universo em que nos inserimos. É por essa razão que o trabalho gráfico de Royal Robertson é usado na belíssima apresentação multimédia do concerto e faz parte da estética do álbum.
Para o final do concerto, antes do encore, foi guardada a longa e magnética “Impossible Soul”, a magnum opus de Sufjan Stevens, nas suas próprias palavras. Com 25 minutos de duração, tivemos direito a uma performance memorável onde se assistiu às danças das vocalistas assistentes no palco e no topo de colunas, ao equipar de um fato espacial angular por Sufjan, à descida de uma nave espacial abstrata em forma de diamante, mil e uma cores e luzes intermitentes e uma chuva de conffeti. A mensagem principal era a de alegria e partilha, porque “we can do so much together”.
Satisfeito, mas sedento de mais, o público bateu palmas, assobiou, gritou e bateu com os pés durante vários minutos de espera pelo encore. Quando já se duvidava se haveria tal, eis que volta Sufjan Stevens, despido de excentricidade, com uma simples t-shirt e calças cinzentas, para nos apresentar “Concerning the UFO Near Highlands, Illinois” e “John Wayne Gacy, Jr.” no seu estilo mais tradicional, guitarra nas mãos e junto ao público.
A noite não estava ainda terminada sem “Chicago” do álbum “Illinois” de 2005, uma música que o artista gosta de guardar para o final dos seus concertos e que fala da viagem de um jovem pelo mundo fora. Juntamente com a libertação de balões coloridos de variados tamanhos e com a presença de toda a banda na apresentação da música, Sufjan Stevens agredeceu e despediu-se generosamente do público portuense ao som do rebentamento de muitos dos balões libertados, a fazer lembrar fogo de artificio. Um final apropriado a um concerto incrível, onde artista e público se uniram numa experiência transcendente de exploração interna, frenesim visual e deleite sonoro.
Este álbum significou uma mudança de paradigma na carreira de Sufjan Stevens, já que ao fim de vários anos a debater-se com a relação intrínseca entre o esmagador e colossal universo celestial e o ínfimo, mas vastamente detalhado universo interior e pessoal, o artista expõe esta sua visão nas músicas que agora apresenta, decorrentes também do seu fascínio pelo funcionamento do sistema nervoso humano e do seu actual estado mais hormonal, como que a viver uma segunda adolescência. Tudo isto, e de facto muito mais, nos foi dito pelo próprio, pois Sufjan Stevens conversou profusamente com o seu público, sentindo necessidade de dar a conhecer o conceito do seu trabalho.
“The Age Of Adz”, enquanto obra musical, é um álbum coeso, com uma grande variedade de camadas sonoras e profundamente texturado, contudo nem sempre de fácil compreensão. Assistir ao concerto e ouvir do seu criador a ligação entre os vários pontos, permite-nos compreendê-lo e criar uma imagem mental mais fidedigna da mensagem nele expressa. A complexidade da obra é tal, que este auto-denominado “singer-songwriter”, faz agora uso de uma banda com vários elementos, apresentando uma performance sólida, divertida na sua diversidade e entusiasmante pela qualidade do trabalho musical.
Aludindo ao nome da música nas asas que se viram abrir em dramático efeito, o concerto começou com “Seven Swans” e deu a conhecer ao público presente a magnificência visual que acompanharia a sonora durante as 2 horas e 10 minutos seguintes. Holofotes, lasers e vestimentas espaciais de várias cores, um ecrã no background a complementar o conceito das músicas e uma cortina frontal que desceu várias vezes a duplicar o efeito dessas imagens, foram vários dos ingredientes que tornaram este num espetáculo único. Infelizmente o Coliseu do Porto estava a meia capacidade.
Seguiram-se no alinhamento “Too Much” e a grandiosa e imponente “Age of Adz”, antes da apresentação de uma cover dos R.E.M., “The One I Love”, apenas com Sufjan Stevens e a sua guitarra, junto à berma do palco, dedicada à pessoa que o artista ama.
Para introduzir a música seguinte, “Now That I’m Older”, Sufjan explica que apesar de ser jovem e talvez não ser ainda indicado pensar nestas questões, sente que é um privilégio ter a possibilidade de envelhecer, sendo que no fundo, nunca é demasiado cedo para se refletir nesse assunto. Pensamos que esta música terá nascido no rescaldo da doença do foro nervoso que o afectou recentemente e das suas consequências face a uma mudança de postura de vida.
Ouviram-se então “I Walked” e “Sister”. Nesta última o artista volta à sua guitarra e a estar perto do público, pedindo a todos que têm irmãs ou que são irmãs, a acompanhá-lo em duas séries de vocalizações que o próprio ensinou na altura. Mais ou menos afinados, a participação foi elevada.
Chegados a “Get Real Get Right”, Sufjan Stevens apresenta-nos a metade que faltava da conceptualização do álbum, bem como a influência desta música. Durante os 20 minutos seguintes, ficamos a saber que nas suas viagens, o artista conheceu Royal Robertson, um profeta auto-aclamado capaz de prever a destruição do mundo. Nos momentos em que se absorvia em experiências extra-corpo, visualizava diferentes partes desse final anunciado e representava-as em pinturas e desenhos, para os quais tinha um dom natural. Era um autodidata que nunca havia frequentado a escola e vivia com a mulher e os seus 15 filhos numa casa que ele próprio construiu. Com o passar do tempo e o agravamento do seu comportamento errático, foi-lhe diagnosticada esquizofrenia, cujo tratamento sempre recusou, até que expulsou a sua família de casa e afixou sinais por todo o interior e exterior da habitação, alertando para o destrutivo e iminente caos que se aproximava. Apesar do caricato de toda a situação, a contemplação das pinturas e dos desenhos, bem como o estudo das teorias de Royal Robertson, permitiram a Sufjan Stevens compreender melhor a sua postura perante a vida e o entendimento do universo em que nos inserimos. É por essa razão que o trabalho gráfico de Royal Robertson é usado na belíssima apresentação multimédia do concerto e faz parte da estética do álbum.
Para o final do concerto, antes do encore, foi guardada a longa e magnética “Impossible Soul”, a magnum opus de Sufjan Stevens, nas suas próprias palavras. Com 25 minutos de duração, tivemos direito a uma performance memorável onde se assistiu às danças das vocalistas assistentes no palco e no topo de colunas, ao equipar de um fato espacial angular por Sufjan, à descida de uma nave espacial abstrata em forma de diamante, mil e uma cores e luzes intermitentes e uma chuva de conffeti. A mensagem principal era a de alegria e partilha, porque “we can do so much together”.
Satisfeito, mas sedento de mais, o público bateu palmas, assobiou, gritou e bateu com os pés durante vários minutos de espera pelo encore. Quando já se duvidava se haveria tal, eis que volta Sufjan Stevens, despido de excentricidade, com uma simples t-shirt e calças cinzentas, para nos apresentar “Concerning the UFO Near Highlands, Illinois” e “John Wayne Gacy, Jr.” no seu estilo mais tradicional, guitarra nas mãos e junto ao público.
A noite não estava ainda terminada sem “Chicago” do álbum “Illinois” de 2005, uma música que o artista gosta de guardar para o final dos seus concertos e que fala da viagem de um jovem pelo mundo fora. Juntamente com a libertação de balões coloridos de variados tamanhos e com a presença de toda a banda na apresentação da música, Sufjan Stevens agredeceu e despediu-se generosamente do público portuense ao som do rebentamento de muitos dos balões libertados, a fazer lembrar fogo de artificio. Um final apropriado a um concerto incrível, onde artista e público se uniram numa experiência transcendente de exploração interna, frenesim visual e deleite sonoro.
Texto de Pedro Soares